segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Visões na Coleção Ludwig

Está em cartaz no CCBB, até 21 de abril, a mostra Visões na Coleção Ludwig, com 78 obras de uma das mais importantes coleções particulares de arte contemporânea.


Andy Warhol
Portrait Peter Ludwig, 1980
Museum Ludwig in the State Russian Museum, S. Petersburg

Espécie de presente pelo aniversário de 460 anos da cidade, em 25 de janeiro a instituição abriu a mostra Visões na Coleção Ludwig, com 78 obras de uma das mais importantes coleções particulares de arte já reunidas no mundo. Conhecido como o “barão do chocolate”, devido ao império industrial que ergueu com a fabricação dessa guloseima (a partir de herança de sua esposa Irene, também cultora das artes), o empresário alemão Peter Ludwig tornou-se, no século passado, um dos maiores mecenas da era moderna para instituições museológicas, e não apenas na Europa.


Ruínas, Roy Lichtenstein, 1965

Entre 1970 e o ano de sua morte, 1996, Ludwig destinou as mais de 50 mil peças de seu privilegiado acervo para 12 museus e galerias especiais em cinco países, sobretudo Alemanha. A relação inclui o Ludwig Museum em Beijing (China) e a Fundação Ludwig de Cuba, em Havana. Para que o público conheça o contexto da formação dessa fantástica coleção, um conjunto de plataformas interativas está instalado no primeiro andar do CCBB. Elas permitem “navegar” por um mapa que apresenta a expansão da coleção e cada uma de suas sedes.


Os Amantes, Howard Kanovitz, 1965

Em 1995, o magnata destinou centenas de obras-primas ao Museu Estatal Russo, de São Petersburgo, de onde provém a mostra brasileira, com uma seleção de 78 itens a cargo dos curadores Evgenia Petrova, Joseph Kiblitsky (russos) e Ania Rodríguez (cubana).


O banho turco de Ingres, 1967, serigrafia, pintura em tela, papel em cartão e colagem, de Robert Rauschenberg

A filial russa da coleção Ludwig constitui a fonte da mostra brasileira, que, até 21 de abril próximo, proporcionará ao visitante uma noção privilegiada das mais recentes progressões de tendências e estilos na arte contemporânea. Distribuído por cinco andares, o percurso obedece a um misto de ordens cronológica e estilística, no qual são oferecidos exemplos que abrangem da maturidade de Pablo Picasso (com a tela pós-cubista Grandes Cabeças, de 1969) até a “arte proibida” de surgida nos estertores da ex-União Soviética, ao tempo da Perestroika.

Tríptico No. 14 Autorretrato, Vladimir Yankilevsky, 1987

Entre estas, a pintura-colagem Tríptico nº 14 Autorretrato, de 1987, na qual o pintor Vladimir Yankilevsky denuncia, pela mutilação de partes de sua figura, o autoritarismo do regime e da censura da época. A presença de Yankilevsky está conectada a um dos mais peculiares conceitos da coleção: em suas últimas duas décadas de vida, Peter Ludwig desenvolveu, em cumplicidade com Irene Ludwig, sensibilidade especial para artistas situados à margem de regimes totalitários. Com essa orientação, chegou a adquirir grande parte de uma das edições da Bienal Internacional de Arte de Havana.

Madona, 1979–1980, óleo sobre tela, de Claudio Bravo

Ao lado dos artistas russos, e no mesmo viés de um interesse geopolítico, Visões na Coleção Ludwig exibe obras de criadores como o sul-coreano Lee Sang-Won (Da Série Tempo e Espaço, 1996) e o grego Pavlos (Guarda-roupa IV, 1968). Essa seleção foi destinada ao subsolo do CCBB e inclui fotografias em impressão especial (sobre tela) com temas a retratar a cultura e a sociedade europeia do final do século XX. É o caso de Cléopatra Claudia Schiffer (1991), do alemão Gunter Sachs (1932-2011), também industrial de veículos esportivos e playboy internacional, envolvido com beldades como Brigitte Bardot e a modelo Schiffer.


Garota prendendo o cabelo, 1967, cadeira de madeira e gesso, de George Segal


Entre os extremos do cubismo revisitado por Picasso e da desafiadora arte russa dos anos 1980, situa-se um das maiores atrações da mostra, com todo um segmento de artistas pop norte-americanos e obras representativas de auges dessa produção. Ludwig chegou a deter a mais importante coleção de pop na Alemanha. Assim, o quarto andar do edifício está reservado à contemplação, entre outros exemplos, de uma homenagem do ícone Andy Warhol ao próprio colecionador alemão: o Retrato de Peter Ludwig, realizado em 1980. Ao lado de Warhol encontram-se, entre outros, Roy Lichtenstein (Ruínas, 1965), Tom Wesselmann (Desenho em aço com frutas, flores e Monica, 1986), Claes Oldenburg (Banana-splits e glacês em degustação, 1964) e o polêmico Jeff Koons (Querubins, 1991), talvez o último herdeiro do espírito de iconoclastia da pop art.


Cabeças grandes, 1969, óleo sobre tela, de Pablo Picasso

Descendo as escadas do CCBB o visitante encontra, no terceiro andar, ainda outras legendas do pop, como Cy Twombly e Jasper Johns, além de um artista que desenvolveu seu estilo nesse ambiente e marcou fortemente a geração de apreciadores da arte hoje na casa dos trinta e quarenta anos de idade: do norte-americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988) é exibido um grafitti de 1984 em grandes dimensões, em óleo e acrílica sobre tela.


Sem título, 1984, óleo e acrílica sobre tela, de Jean-Michel Basquiat
 O andar abriga, ainda, tendências americanas concomitantes ao estilo pop, como a new image painting e a pattern and decoration, esta bem exemplificada em obra de Robert Kushner, Rosas de Samarcanda (1977), uma dentre as centenas de versões do tema na trajetória do californiano, e que poderá recordar, para o espectador brasileiro, a vitoriosa pintura de Beatriz Milhazes, cujas composições se valem, igualmente, do tema “padrões e estamparias”.



Querubins, 1991, madeira, caulim (levkas), óleo, pintura e douração, de Jeff Koons

Para as salas do segundo andar do prédio foi reservada produção nunca antes mostrada pelo centro cultural. Trata-se do “creme” da pintura neoexpressionista alemã. Como em salas especiais de museus berlinenses de arte contemporânea, o visitante conhece trabalhos de Georg Baselitz, Markus Lüpertz e Anselm Kiefer, entre outros pintores dessa extração.


 
Cabeça de criança, 1991, óleo e acrílica sobre tela, de Gottfried Helnwein

 Em meio às pinturas, a escultura em bronze Mulher Animal, do mestre-guru de pelo menos duas gerações de artistas europeus: Joseph Beuys. Outro destaque do segmento são as fotos de 48 Retratos, de Gerhard Richter (1972). Há, ainda, dois outros nomes emblemáticos da pintura americana, Jasper Jonhs e Cy Twombly, além de artistas que conduziram a pop art à técnica do hiperrealismo, como Robert Bechtle e Ralph Goings.


Sombra, 1959, objeto de encáustica, madeira, metal e tela, de Jasper Johns


No saguão do térreo do CCBB, o visitante é recebido pelo gigantesco painel Cabeça de Criança (1991), do austríaco Gottfried Helnwein, cultor da pintura hiperrealista vinculada a reflexões sobre a infância e a violência. Como em outras grandes mostras da instituição, a acessibilidade é uma preocupação. A mostra tem entrada franca e prevê a realização de “viradas culturais”.

Grande punho de ferro, 1979, óleo e acrílica sobre tela, de Anselm Kiefer


Por Alvaro Machado
Jornalista, crítico de cinema e artes visuais 
fonte: http://ideiasonlineccbbsp.com.br/category/exposicao/ 

Um comentário:

  1. Oi Sergio, você é o amigo da Lucília, não? Sou a Maria Carolina, filha da Tereca Zurita e sobrinha da Maró. Estou fazendo um trabalho de faculdade sobre a mostra da Coleção Ludwig e achei seu blog por acaso no Google. Adorei e me ajudou bastante! Parabéns!

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